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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Capítulo 4 - Será?

(Desculpem a mudança na fonte, mas não consegui de jeito nenhum colocar a anterior.)
   
    Abri os olhos na manhã seguinte. Fiquei olhando para o teto, estranhei ao abrir os olhos, afinal, quem nunca acordou na casa de outra pessoa e se surpreendeu por que havia esquecido de que não estava em casa? Era exatamente isso que eu havia sentido. Jurava que quando abrisse os olhos estivesse em casa, mas observei, e lembrei de que estava na casa de meu avô. Eu lembrei de tudo que havia acontecido na noite anterior, e uma estranha sensação de que tudo havia sido um sonho tomou conta de mim, mas ao olhar para o lado, ali estava ele, deitado, dormindo, feito um anjo, e me dei conta de que nada foi um sonho, tudo foi verdade. Nos beijamos.
    Me levantei da cama depois de muito tempo refletindo comigo mesma. Eu sempre, na casa das outras pessoas, demorava para levantar da cama porque não sabia se todo mundo estava dormindo ainda, nunca sabia direito se devia levantar ou esperar mais. Mas deixei pra lá isso tudo após perceber movimentos na cozinha. Eu comecei a procurar meus chinelos pelo quarto, não achava de modo algum, fazendo tudo isso e ás vezes dando uma olhada no Jun, para ver se ele estava acordado. Até que ele abriu os olhos e eu o percebi acordado, ele pôs a cabeça angelicalmente no travesseiro, daquele jeito, com o queixo apoiado no travesseiro e os olhos verdes me observando. Algo que faria qualquer manhã ficar melhor. Ele sorriu, era uma expressão diferente que ele tinha no rosto, um expressão suave. 
    Ele sorriu com os olhos pra mim, e eu sorri durante menos de um ou dois segundos, um sorriso nervoso, acho que nem poderia ser chamado de sorriso. Completamente sem jeito, eu não o encarava, tentava ao máximo não ter que olhar para aqueles lindos olhos.
    —Você viu meu chinelo?—Perguntei, ridiculamente. Como ele saberia se acabara de acordar? Refleti muito depois de ter perguntado isso a ele.
    —Não.
    Ele se levantou e começou a procurar comigo. Até que finalmente achamos.
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    Estávamos todos sentados, o almoço estava servido. Eu sempre me senti desconfortável fazendo qualquer tipo de refeição na casa de outras pessoas. Normal ou não, assim era eu. Mas naquele momento, naquela mesa, eu sentia a mais do que em qualquer outra casa. Ele estava sentado logo ali, perto de mim, mas não ao meu lado. Olhei para ele em um reflexo e não olhei mais. Me servi e comecei a comer, não olhando pra ninguém. Eu mastigando, quase conseguia ver eu mesma ali. Rolava de vez em quando umas conversas, meu avô e a mulher dele sempre tinham algo pra perguntar comentar ou brincar. Meu irmão mais novo, sempre falava algo também. 
    Logo depois de toda a refeição, todos ficamos ali na área do lado de fora da casa. Eu brincava um pouco com o pequeno Emerson, na areia, ali ou aqui. Onde ele estivesse eu estava.
    Eu sempre fui conhecida, principalmente por minha mãe, por gostar muito de crianças e ter uma paciência sem tamanho. Sempre fui assim, cuidava sempre dos filhos das amigas da minha mãe, brincava, e divertia. O problema é quando eles choravam, eu não era tão boa em saber o que fazer nessas horas.
    Brinquei por um longo tempo com ele por ali, e quando o Jun aparecia ali por perto, como de costume, eu desviava o olhar instantaneamente.
    Meu avô, a mulher dele e o pequeno Emerson logo a tarde, tiveram que sair para resolver algumas coisas. 
—Lavem a louça!—Disseram antes de sair.
    Eu, meus dois irmãos e o Jun ficamos. 
    E iríamos tomar banho numa espécie de piscina improvisada, não era bem uma piscina, mas poderia ser chamada assim. Eu coloquei meu biquíni azul, que só tinha a parte de cima e na parte de baixo, usei um calção jeans meu, era feminino, mas nada curto. Meu irmão menor, eu e o Jun ficamos nos divertindo ali. O mais velho havia ficado jogando no computador. Um velho jogo, com uma musiquinha que ficou na minha cabeça por um longo tempo.
    Nós três ficamos ali, conversando, rindo, jogando água na cara uns dos outros. Eu observava o Jun. Tão lindo. Ás vezes ele colocava seu braço sobre o meu ombro, discretamente, pois meu irmão era novo, mas não era cego.
    —E esse braço aí hein?—Brincou meu irmão, mas perguntando algo sinceramente, em tom de deboche.
    —Ah, nós somos amigos, por acaso amigos não podem abraçar uns aos outros, hein?—Falei, deixando ele pôr seu braço no meu ombro.
    Começamos a movimentar nossas mãos bruscamente na água e ela ia alto, não deixando eu e o Jun na visão do meu irmão.
—Vai, quero ver, faz o máximo que tu puder. —Disse o Jun ao meu irmão.
    Nisso ele me dava leves beijos nos lábios, com intervalos e rápidos, pois ele podia ver a qualquer momento. Acariciava minha mão. Resolvemos sair dali e jogar um pouco de futebol.
    Eu adorava jogar futebol, mesmo não sabendo muito, mas quando me elogiavam, era a melhor coisa. Gostar desse esporte nem sempre foi fácil, pois meninos não são fáceis de lidar. No meio de uma conversa sobre futebol, eu teria o maior medo de falar algo totalmente estúpido, por isso muitas vezes nem abria a boca.
    
    Eu tentava driblar o Jun, mas ele me abraçava e roubava a bola. 
—Assim não vale!—Exclamei.
    Nós nos divertíamos.
—Vem aqui.—Chamou-me ele, querendo me segurar nos braços, e eu percebi sua intenção: Me jogar dentro da pequena piscina.
—Não... Não, por favor!—Berrei em tom de brincadeira e saí disparada, correndo para quase dentro da casa, mas ele me alcançou rapidamente, me levantou em seus braços e me deu um leve beijo na bochecha.
    Não me jogou dentro da piscina, mas me colocou ali mesmo assim e entrou.
—Devemos lavar a louça.—Lembrei.
—Eu só vou se tu me ajudar.—Disse ele. Eu sorri.
    Entramos na casa, e fizemos tudo que tínhamos que fazer. Tudo limpo, pelo menos ali em cima da pia. Assim que terminamos ele me levou mais para dentro da casa. Sentou-se e me segurou em seus braços, eu estava de pé, mas não ficava tão longe de seu rosto, apenas um pouco, pois eu não era muito alta. Ele me olhava e logo depois me dava um beijo. Tudo havia se tornado mais natural pra mim naquele momento. O beijo dele era algo que me tirava os pés do chão. O beijo dele. Não era um beijo qualquer. Era o beijo. Naquele momento, não tocou só meus lábios. Mas também meu coração.
    Depois de tudo isso, resolvemos então colocar as mãos a obra, pois a qualquer momento eles poderiam chegar, e não queríamos que nos pegassem aos beijos. Estávamos então arrumando as coisas: Ele organizando o quarto do meu avô e da mulher dele, e eu organizando o quarto dele. Eu arrumava aquele típico quarto de menino adolescente . Eu coloquei alguns móveis pra cima e comecei a varrer. Eu podia escutar lá do quarto dele, que ele ouvia uma música alta. A música se chamava "Helena" da banda americana "My Chemical Romance". Eu adorava aquela música. Sempre assistia ao clipe em um canal de clipes musicais, e fiquei lisonjeada ao saber que compartilhávamos o mesmo gosto musical. 
    Tudo estava indo bem até que eles chegaram. Em minutos começamos a ouvir gritos, uma discussão não agradável. Eu só consegui ver o momento que o Jun havia saído do quarto, pra ver o que estava acontecendo, na rua. Saí também e vi ali, meu avô e a mulher dele, aos berros.
—Vamos crianças, eu vou levar vocês pra casa. No meio de brigas, vocês não vão ficar.—Disse o meu avô, com uma expressão desgostosa no rosto.
    A onda de frustração tomou conta de mim. Ir embora: Era algo que eu não esperava naquele momento, depois dos momentos, por mais rápidos que tenham sido com o Jun, eu não esperava ir embora. Não queria.
    Meu avô pôs nossas coisas nos carro. 
    Ao me despedir da mulher, ela me abraçou, me deu um beijo no rosto e disse:
—Não liga para o que ele tá fazendo, eu amo vocês.
    Olhei pela última vez no rosto dela e entrei no carro. Não. Eu não havia me despedido do Jun. Não sabia o porquê, talvez por não querer realmente dar um simples "tchau". Eu queria tocar seus lábios mais uma vez. Mas não podia, a única coisa que pude fazer, era observar ele através do vidro do carro enquanto saíamos dali. 
    "Será que eu o verei de novo?" pensei comigo mesma. A resposta era provavelmente positiva, pois ele era ligado ao meu avô. Não estava longe. "Será?"