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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Capítulo 1 - A Família Guerreiro

      Naquele momento eu estava no quarto, deitada, em um beliche, na parte de cima e meus dois irmãos na parte de baixo.
      Nossa casa era bem simples, três cômodos, mas pra nós era o melhor lugar para se viver. Meu tio avô morava ali logo ao lado na outra casinha. Um senhor de cabelos brancos, resmungão, desde que eu me dou por gente, ele tem cabelos brancos. Vivia cantarolando músicas antigas, e eu e meus dois irmãos dando gargalhadas. Ele era como um segundo pai. Irmão do meu avô, cheio de irmãos, e uma irmã.
      Meu avô, um homem sempre, a vida toda, fazendo sucesso com as mulheres. Grisalho, bonitão melhor dizendo. Tinha dois filhos. Um filho e uma filha. Muito ao contrário do meu tio avô, o meu avô sempre se cuidou, e tinha um emprego estável, trabalhava na brigada militar. Viveu um longo tempo casado com minha avó. Mas logo ele se casou e parou de ser o tal mulherengo que sempre foi. Casou-se, e assim que se casou, ganhou mais um filho.  Sua mulher tinha um filho, que então, meu avô criou como se fosse seu filho.
      Minha avó. Tão linda. De baixa estatura, parecia uma boneca. Cabelos encaracolados e castanhos, pele branca. A melhor companhia que se pode ter.
      Meu tio. Sempre foi e ainda é o meu maior ídolo. Posso dizer que era mais um pai para nós. Um exemplo de pessoa, estudioso, dedicado, brincalhão e amável. Mesmo sendo mais novo do que minha mãe, sempre a ajudou muito, assim como ela o ajudou. Anjos. Tinha cabelos escuros, olhos puxados e pele branca.
      Meus dois irmãos. O mais velho foi a vida inteira, quieto, na dele, educado, ao contrário de mim. Cabelos escuros, pele morena, olhos marcantes, sorriso tímido. Meu irmão mais novo, sempre agitado, falador, igual minha mãe. Ele tinha olhos puxados, pele bem branquinha, e cabelo escorrido, cabelos lembrando muito cabelo de índio. Um ao contrário do outro.
      Eu, bom, eu sempre fui muito agitada, e sapeca. Eu mexia em tudo, estragava todos os brinquedos, em casa, porque na casa dos outros era um anjo.   Eu tinha olhos grandes, cabelos cacheados e pele branca.
      Minha mãe. Linda, sempre foi linda. Faladora, nossa, e como fala. Alta, cabelos lisos e escuros, muitas vezes pintados de loiro, mas o escuro era sempre a melhor opção. Olhos levemente puxados, pele morena, um moreno diferente do meu irmão mais velho, mas era morena.  Ela sempre foi um exemplo de vida, e de mulher de verdade pra mim. Eu nunca vi alguém como ela e acho que nunca vou ver, ela fazia de tudo. Fazia de tudo para sermos uma família feliz, a que somos hoje.
      Meu pai, bom, ele não era um guerreiro, mas de alguma forma acabava por ser considerado, já que era casado com a minha mãe. Foi do meu pai que herdei os cabelos cacheados, mas os dele eram pretos. Mas também desde que me conheço por gente, meu pai era calvo. Pele branca, olhos grandes. Ele sempre foi muito bem humorado, brincalhão, com ele, sempre tivemos altas risadas, isso o tornava mais lindo. Mas ele era muito diferente como pai, do que como era como marido.
  


 Separação
      Era noite, e eu naquele momento estava no quarto, deitada, em um beliche, na parte de cima, meus irmãos na parte debaixo. O mais novo dormindo e o mais velhos apenas observando tudo.
     Minha mãe e meu pai na cozinha.Meu pai berrava, minha mãe berrava, eu acabava berrando e as lágrimas descendo. Eu olhava pro meu irmão mais velho, ele até gritava, mas não tanto quanto eu. Eu estava de certa forma assustada, vendo as duas pessoas que mais amava ali, praticamente acabando um com o outro. As lágrimas desciam sem parar, lágrimas que eram como pesos,  terremotos, pois, tudo que foi construído, pelas duas pessoas mais importantes de nossas vidas, estava desmoronando ali, naquele momento, naquele simples lugar, que um dia já foi cheio de amor e afeto, e que agora, estava cheio de ira, de duas pessoas que naquele momento, não pareciam o casal—que nós pensávamos que era feliz . Até que meu pai se enfureceu e saiu de casa, jogando algumas coisas no chão, então eu desci da cama e fui ver como tudo estava.
     Minha mãe olhava as coisas estragadas, estava um tanto brava, mas me acalmou. E no dia seguinte tudo acabara. Minha mãe me segurou pelo braço e fomos para casa de minha avó, não para morar lá, apenas para esfriar a cabeça. Eu sempre fui muito companheira da minha mãe, sempre fiquei ao lado dela, mesmo amando muito meu pai.
    Tudo aconteceu até que meu pai saiu de casa de vez, e foi morar na casa da minha outra avó. Ficamos ali então eu, minha mãe e meus irmãos. De certa forma isso nos trouxe paz, vivemos com um pouco de dificuldade obviamente, mas existia paz.

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