Eu amadureci muito com a separação dos
meus pais. Eu tinha dez anos, mas sabia muito bem lidar com as coisas, era
diferente, eu parecia mais velha. Sempre foi assim comigo, até hoje.
Era verão de dezembro de 2006. Eu, sempre
odiei matemática, a minha maior inimiga, e naquela época eu precisava fazer a
prova da aprovação, ou seja, eu estava na quarta série, prestes a passar pra
quinta, mas para passar, eu tinha que conseguir atingir a média nesta prova
final de matemática. Eu iria fazer na semana seguinte, mas pelo fato de que meu
avô viria para buscar eu e meus irmãos para passar uns dias lá, minha mãe pediu
para que eu fizesse a prova antes, eu fiz e passei.
Eu ia saindo de dentro da escola, e estava
prestes a virar a rua pra ir pra casa, mas a mãe me chamou e apontou. O carro
do meu avô estava estacionado ali, exatamente na frente da escola. Eu entrei no
carro, junto de minha mãe e observei que no banco a minha frente tinha alguém
desconhecido para mim, era um menino, bom, adolescente. 15 anos. E logo ao lado de minha mãe havia um
menino, bem pequeno, devia ter um 2 ou 3 anos de idade, era como se fosse um
neto para o meu avô.
Minha mãe estava o meu lado, e falava com
o meu avô algo como:
—Fica de
olho neles hein pai. —Dizia ela, e eu pensava: Como minha mãe podia pensar em
uma coisa dessas, o menino de 15 anos fazer algo com uma menina de 10? Bom,
devia ser obviamente porque eu parecia maior, mas eu não tinha certeza.
Logo depois que minha mãe disse isso, o
próprio menino começou a falar. Colocando as mãos no teto do carro, eu não via
o rosto dele, ainda. Apenas observava as mãos dele enquanto ele falava.
—Eu nunca
vou fazer nada, olha o tamanho dela.
Meu avô então ligou o carro e subimos em
direção a nossa casa, para pegarmos as nossas coisas. Chegando lá, saímos do
carro e então minha mãe foi a única a entrar em casa, para pegar nossas coisas,
e nós ficamos na frente esperando ela. Foi quando eu vi o menino, de verdade.
Olhando ele, eu ficava me sentindo meio
estranha. Ele era lindo. Pele morena, olhos grandes e verdes, cabelos
castanhos. Mas eu não falava nada com ele. O nome dele era Jun. Já havia
visto ele quando eu tinha cerca de cinco anos, mas não tinha lembranças claras sobre
isso.
Minha mãe então voltou e colocou nossas
coisas no carro. Logo ela puxou meu avô para um canto, em que o menino não
pudesse ouvir nada do que ela dissesse, mas ela dizia mais ou menos a mesma
coisa que havia falado no carro.
—Pai, fica
de olho nele tá bom? Ela é uma menina. Não deixa ele se passar.
Eu sabia fingir muito bem. Eu ouvi tudo,
mas não disse nada. Apenas guardei as palavras dela na minha mente.
Entramos todos no carro, nos despedimos e
seguimos viagem, rumo a Montenegro, a cidade em que meu avô viveu durante anos.
Durante a viagem, eu e meus irmãos nos distraíamos com qualquer coisa, até com
a camiseta do pequeno menininho, que o vento enchia e o fazia ficar inflado. Eu
ficava rindo juntamente do meu irmão mais novo, e acabava por me deparar com o
olhar de Jun. Para mim ele me olhava como se dissesse “Que coisa ridícula,
está rindo por nada”. Então se eu estava rindo, imediatamente eu ficava séria
ao me deparar com os olhos dele. Quando ele falava com o meu avô, eu apenas
ouvia sua voz e observava seus movimentos.
Finalmente chegamos a casa deles. Saindo
do carro nos deparamos com duas mulheres sentadas ali fora. Uma era a esposa do
meu avô, e a outra a enteada, irmã do Jun. Ambas com cabelos bem escuros.
Elas nos olharam, e nos cumprimentaram. Simpáticas à primeira vista.
Entramos na casa e guardamos nossas
coisas nos armários. No quarto do Jun. Eu olhava para o Jun, mas não
deixava ele ver que eu o olhava. Eu estava de certo modo encantada por ele. Ás
vezes ele ficava apenas no computador, jogando, e eu ficava brincando com o
netinho de meu avô, colocando ele na cama e fazendo cócegas. O Jun observava. Era eu quem estava brincando e fazendo-o rir, mas ele xingava o
menino.
Eu ficava com vergonha até mesmo na hora
das refeições, eu não sabia para onde olhar. Era meio ridículo, mas eu sempre
fui muito tímida com pessoas que eu não tinha muito tempo de convivência.
Nos divertimos de diversas formas durante o
dia. O Jun ficava mostrando jogos no computador ao meu irmão mais velho. Eu,
meu irmão mais novo e o neto do meu avô, ficávamos jogando bola no pátio.
Era estranho, mas eu estava sempre de
alguma forma atenta ao que o Jun estava fazendo.
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