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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Capítulo 2 - 2006


      Eu amadureci muito com a separação dos meus pais. Eu tinha dez anos, mas sabia muito bem lidar com as coisas, era diferente, eu parecia mais velha. Sempre foi assim comigo, até hoje.
      Era verão de dezembro de 2006. Eu, sempre odiei matemática, a minha maior inimiga, e naquela época eu precisava fazer a prova da aprovação, ou seja, eu estava na quarta série, prestes a passar pra quinta, mas para passar, eu tinha que conseguir atingir a média nesta prova final de matemática. Eu iria fazer na semana seguinte, mas pelo fato de que meu avô viria para buscar eu e meus irmãos para passar uns dias lá, minha mãe pediu para que eu fizesse a prova antes, eu fiz e passei.
     Eu ia saindo de dentro da escola, e estava prestes a virar a rua pra ir pra casa, mas a mãe me chamou e apontou. O carro do meu avô estava estacionado ali, exatamente na frente da escola. Eu entrei no carro, junto de minha mãe e observei que no banco a minha frente tinha alguém desconhecido para mim, era um menino, bom, adolescente.  15 anos. E logo ao lado de minha mãe havia um menino, bem pequeno, devia ter um 2 ou 3 anos de idade, era como se fosse um neto para o meu avô.
     Minha mãe estava o meu lado, e falava com o meu avô algo como:
—Fica de olho neles hein pai. —Dizia ela, e eu pensava: Como minha mãe podia pensar em uma coisa dessas, o menino de 15 anos fazer algo com uma menina de 10? Bom, devia ser obviamente porque eu parecia maior, mas eu não tinha certeza.
     Logo depois que minha mãe disse isso, o próprio menino começou a falar. Colocando as mãos no teto do carro, eu não via o rosto dele, ainda. Apenas observava as mãos dele enquanto ele falava.
—Eu nunca vou fazer nada, olha o tamanho dela.
     Meu avô então ligou o carro e subimos em direção a nossa casa, para pegarmos as nossas coisas. Chegando lá, saímos do carro e então minha mãe foi a única a entrar em casa, para pegar nossas coisas, e nós ficamos na frente esperando ela. Foi quando eu vi o menino, de verdade.
      Olhando ele, eu ficava me sentindo meio estranha. Ele era lindo. Pele morena, olhos grandes e verdes, cabelos castanhos. Mas eu não falava nada com ele. O nome dele era Jun. Já havia visto ele quando eu tinha cerca de cinco anos, mas não tinha lembranças claras sobre isso.
      Minha mãe então voltou e colocou nossas coisas no carro. Logo ela puxou meu avô para um canto, em que o menino não pudesse ouvir nada do que ela dissesse, mas ela dizia mais ou menos a mesma coisa que havia falado no carro.
­—Pai, fica de olho nele tá bom? Ela é uma menina. Não deixa ele se passar.
    Eu sabia fingir muito bem. Eu ouvi tudo, mas não disse nada. Apenas guardei as palavras dela na minha mente.
      Entramos todos no carro, nos despedimos e seguimos viagem, rumo a Montenegro, a cidade em que meu avô viveu durante anos. Durante a viagem, eu e meus irmãos nos distraíamos com qualquer coisa, até com a camiseta do pequeno menininho, que o vento enchia e o fazia ficar inflado. Eu ficava rindo juntamente do meu irmão mais novo, e acabava por me deparar com o olhar de Jun. Para mim ele me olhava como se dissesse “Que coisa ridícula, está rindo por nada”. Então se eu estava rindo, imediatamente eu ficava séria ao me deparar com os olhos dele. Quando ele falava com o meu avô, eu apenas ouvia sua voz e observava seus movimentos.


      Finalmente chegamos a casa deles. Saindo do carro nos deparamos com duas mulheres sentadas ali fora. Uma era a esposa do meu avô, e a outra a enteada, irmã do Jun. Ambas com cabelos bem escuros. Elas nos olharam, e nos cumprimentaram. Simpáticas à primeira vista.
      Entramos na casa e guardamos nossas coisas nos armários. No quarto do Jun. Eu olhava para o Jun, mas não deixava ele ver que eu o olhava. Eu estava de certo modo encantada por ele. Ás vezes ele ficava apenas no computador, jogando, e eu ficava brincando com o netinho de meu avô, colocando ele na cama e fazendo cócegas. O Jun observava. Era eu quem estava brincando e fazendo-o rir, mas ele xingava o menino.

    Eu ficava com vergonha até mesmo na hora das refeições, eu não sabia para onde olhar. Era meio ridículo, mas eu sempre fui muito tímida com pessoas que eu não tinha muito tempo de convivência.
    Nos divertimos de diversas formas durante o dia. O Jun ficava mostrando jogos no computador ao meu irmão mais velho. Eu, meu irmão mais novo e o neto do meu avô, ficávamos jogando bola no pátio.
     Era estranho, mas eu estava sempre de alguma forma atenta ao que o Jun estava fazendo.

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